dezembro 11, 2009

Cárcere (III)

O espelho de tão claro aponta inclusive as cicatrizes que escondes sob o véu negro que usas.

Coragem, és inteligente o suficiente para perceber que o caminho até tua redenção é árduo e que em cada foco sublimará uma lembrança, como um inimigo em campo de batalha pronto para ser vencido. Tua força deve sair de dentro, teu amor deve ser sólido e tuas mãos quentes e tenras para acarinhar cada verso deste reflexo que insiste em não te ver. Os movimentos que realizas deste lado são tão simétricos aos meus que ao te contemplar me contemplo, criticando tuas dismorfias e escondendo as minhas.

Minha tristeza é tua impaciência, nuvem cheia que percorre pelo teu céu e nos esconde o sol. A vontade que tens de sair é a mesma que eu tenho de ficar, logo, permanecerás em tempestade até a chuva lavar todos os teus argumentos. Enconsta no meu rosto, sente o bradar do meu peito e busca em mim a liberdade que nos falta para perceber a beleza que se forma na duplicidade dos sorrisos e nos movimentos da dança. Teu corpo é música, minha alma fogo. E se me perguntares da chama, digo que é fruto da impossibilidade de cruzares o campo de prata pra te abraçar, transformar e unir nossas cores em um amálgama rubro, conciso, verdadeiro. Tens as cinzas na mão direita e os gravetos na esquerda. Deixa teu orgulho além da cela que te prende e te enxerga em mim.

Os segundos vão passar, o espelho ruirá e o cárcere será cinzas. Das feridas, cicatrizes. Do fim, Fênix.