março 22, 2011

Na cadeira elétrica

O difícil é seguir em linha reta.


Só acordo nos últimos vinte metros - trazido pelas pernas, ludibriado pelo coração. Elas enfraquecem, descordenam. O peito sua e eu ofego aflito ao perceber que não há mais escapatória do brado da coragem. Passo os olhos ao redor para mexer o pescoço inquieto, lembrando que já procurei nestes que me observam a resposta que vive dentro desta alma há muito tempo - e que, por medo, permaneceu trancada em algum lugar. As mãos suam e eu aperto os dedos ao te ver caminhar na minha direção pelo corredor; recupero os sentidos a tempo de ver os teus olhos, fugindo dos meus, me deixando atônito. A mente paralisa o corpo. E me traz, a cada vez que ergues a cabeça, um novo motivo de viver e seguir.

Que a vida siga, então, no sonho eterno.
Um mundo onde as fronteiras são os nossos limites.
Que a ilusão seja, enfim, real.

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Renasço

março 06, 2011

Síndrome do corredor da morte

Estou sufocado.

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Tento esticar o pescoço para conseguir respirar e ver se a minha hora está próxima, mas a cada movimento sinto o fisgar desta coleira de ferro a queimar minhas jugulares. Acorrentado junto aos demais, caminho a passos breves, tropeçando nesta colina a bater nos próprios calcanhares. Não ouço mais clamores de misericórdia, tampouco preces de esperança; a marcha segue silenciosa há horas - os condenados estão entregues, a vontade de viver se foi.

O calor da fenda que se abriu neste chão está mais intenso; sinto o peso do puxar das cordas, enfim, acabará o sofrimento. Ao subir, enrijeço as pernas e deixo de olhar para meus pés já sépticos para contemplar os olhares destes outros homens que, assim como eu, tiveram de exterminar suas percepções mais profundas para descobrir que o sentido da felicidade estava do lado contrário ao caminho que decidiram seguir, há milhares de quilômetros atrás. Aos últimos passos, vejo o sol que se põe na mesma velocidade em que queimam minhas vibrissas.

Tarde demais para que se escorra uma última lágrima. A brisa que bate nos olhos durante a queda é meu canto de liberdade. Penso na vida e no que me levou a este lugar. O perdão é sonho; não há mais tempo, é tarde.




Escurece
Escureço
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