dezembro 06, 2011

Causa mortis (to writer's block)

Mal consigo respirar. Imóvel, perco o controle dos meus movimentos. E dos meus pensamentos.

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Parece que não tivera tempo pra falar, que não fora correspondido, que não pudera ser compreendido. Ele gritava, batia contra o peito querendo sair deste gradil como se estivesse preso, condenado por querer ser o controlador, por querer determinar as escolhas. Pagara a sentença calado como se fosse culpado, mas sua paciência chegara ao seu ponto final. Então, ciente do seu tamanho e do que se torara, dominou por completo o corpo e a mente - que sucumbiu à sua vontade e se tornou sua refém. Estagnou o presente, como está acostumado a fazer nas horas felizes e nas horas tristes. Mais uma vez dono das ações, não obteve êxito sozinho. Chorou, enfraqueceu, murchou. Acarinhou a lucidez, com quem tivera desafeto. Libertou a hombridade e recolheu do chão os valores que escondera. E se calou. A mente hoje limpa as feridas, se levanta e ainda cega começa a procurar o caminho que perdera. Dessa vez ele foi longe demais. E agora é muito tarde.

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É um coração que, de tão grande, rouba as rédeas da razão e toma as decisões da vida sozinho. Em silêncio, lamenta não saber ressuscitar sua criação mais bela, o amor.
Irônico o genitor das minhas mais profundas felicidades também ser o causador do meu decesso.


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E em tua homenagem, hoje fui eu quem andou descalço pela sala.

novembro 02, 2011

Sobre a juventude

Conversando comigo do outro lado da varanda, Dona Terezinha me confessou o sonho que possui de voltar a ser jovem.

Enquanto a ouvia, sentia a transcendentalidade de seus pensamentos brilhar suas pupilas enquanto lamentava seus arrependimentos. Tal qual o Farol da Solidão: emitindo uma bela e clara luz solitária - mas de portões trancados, arraigada em um balneário velho e abandonado. Entre um devaneio e outro, me dizia que se tivesse mais uma chance não teria casado; dançaria mais, viajaria para outros mundos, conheceria pessoas diferentes de si e teria mais apetite pelos livros. Faminta por uma nova vida, a cada projeção emitia um suspiro, imaginando um dia no passado onde receberia a visita de uma Terezinha do futuro, que lhe mostraria todas as suas cicatrizes adquiridas pelas suas escolhas e que lhe desse conselhos de mudança, encorajando uma personalidade outrora pueril, covarde e coagida a ter coragem para buscar, de uma vez por todas, a tão sonhada felicidade.

De volta aos pés no chão, retorno para casa. Ao sentar na mesa, me deparando com as folhas em branco, tento rabiscar algumas letras. Mas me envergonho dos olhares destas paredes brancas que me encaram questionando os motivos pelos quais, mesmo em pleno auge da minha juventude e de minha sanidade, novamente sinto vontade em trancar minhas portas e, entre lágrimas e decepções, desejo a passagem do tempo.

Penso então na conversa que tive. Sexagenária, tendo passado apenas poucos anos de sua viuvez, nem mais no dia de finados Terezinha visita o túmulo do falecido marido. Embora seu semblante não demonstre qualquer reação contra as chagas causadas pelo sofrimento dos anos, interrompia minhas retribuições de esperança para ensinar que nem os mortos merecem a memória da nossa tristeza.
E termina dizendo que nós, os sobreviventes deste mundo, somos os verdadeiros maestros da nossa própria vida. Nossos instintos mais profundos devem incentivar as nossas escolhas, construídas a partir do nosso caráter, com muita coragem e com muita alegria de viver - quebrando assim as correntes que prendem a abertura de nossos portões, movendo assim nossos solitários faróis aos oceanos. O medo não é de sair da beira do mar: é de iluminar aquilo que ainda não conhecemos.

Hoje Terezinha é a personificação do meu futuro batendo em minhas grades, me aconselhando a bradar por liberdade, por uma vida nova. No fim de mais um ciclo, não vou fraquejar. Vivo para ela e para a minha paz. Assim, ergo a cabeça em direção ao ponto mais distante deste oceano; esqueço as mágoas, remodelo as recordações e saio a buscar o desconhecido. A força das ondas na arrebentação já não são mais obstáculos.

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Dá adeus à terra firme; sai em busca de ti.

março 22, 2011

Na cadeira elétrica

O difícil é seguir em linha reta.


Só acordo nos últimos vinte metros - trazido pelas pernas, ludibriado pelo coração. Elas enfraquecem, descordenam. O peito sua e eu ofego aflito ao perceber que não há mais escapatória do brado da coragem. Passo os olhos ao redor para mexer o pescoço inquieto, lembrando que já procurei nestes que me observam a resposta que vive dentro desta alma há muito tempo - e que, por medo, permaneceu trancada em algum lugar. As mãos suam e eu aperto os dedos ao te ver caminhar na minha direção pelo corredor; recupero os sentidos a tempo de ver os teus olhos, fugindo dos meus, me deixando atônito. A mente paralisa o corpo. E me traz, a cada vez que ergues a cabeça, um novo motivo de viver e seguir.

Que a vida siga, então, no sonho eterno.
Um mundo onde as fronteiras são os nossos limites.
Que a ilusão seja, enfim, real.

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Renasço

março 06, 2011

Síndrome do corredor da morte

Estou sufocado.

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Tento esticar o pescoço para conseguir respirar e ver se a minha hora está próxima, mas a cada movimento sinto o fisgar desta coleira de ferro a queimar minhas jugulares. Acorrentado junto aos demais, caminho a passos breves, tropeçando nesta colina a bater nos próprios calcanhares. Não ouço mais clamores de misericórdia, tampouco preces de esperança; a marcha segue silenciosa há horas - os condenados estão entregues, a vontade de viver se foi.

O calor da fenda que se abriu neste chão está mais intenso; sinto o peso do puxar das cordas, enfim, acabará o sofrimento. Ao subir, enrijeço as pernas e deixo de olhar para meus pés já sépticos para contemplar os olhares destes outros homens que, assim como eu, tiveram de exterminar suas percepções mais profundas para descobrir que o sentido da felicidade estava do lado contrário ao caminho que decidiram seguir, há milhares de quilômetros atrás. Aos últimos passos, vejo o sol que se põe na mesma velocidade em que queimam minhas vibrissas.

Tarde demais para que se escorra uma última lágrima. A brisa que bate nos olhos durante a queda é meu canto de liberdade. Penso na vida e no que me levou a este lugar. O perdão é sonho; não há mais tempo, é tarde.




Escurece
Escureço
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