outubro 16, 2009

Entre copos e cigarros

Cansado destas verdades de bar, ergo a cabeça e empunho a lança contra este marasmo pseudo-intelectual

São vocês aí
e nós aqui
Difamando as mesmas hordas

Arrogantemente
colocando pingos nos mesmo is
E servindo mais uma rodada

São os pensadores aqui
E o mundo lá fora
Esperando a resposta que vem na próxima página

Inteligentemente
Desenhando a planta baixa
de uma obra sem concreto

Sem conceito
de um pré-conceito
Escondido
entre aplausos e promessas

.
A arte é insuficiente. Somos falsos artistas.
Saberdoria é indulgência.

outubro 14, 2009

Sobre ideologia e inteligência

Ando pensando que a ideologia é um romantismo pessoal. Um querer muito grande, essa vontade que temos de mudar o mundo, de passar para as pessoas o que acreditamos e o que achamos que devemos fazer para que os nossos sonhos mais profundos possam se tornar realidade. Analisando este conceito, alerto que afrontar a ideologia de cada um é, de alguma maneira, afrontar os sentimentos de mudança mais bonitos e mais românticos na opinião intrínseca de cada indivíduo. A ideologia é incorruptível, ideal, perfeita, modela o nosso caráter. E vem muito ao encontro das nossas necessidades e dos nossos desejos. Contudo, a ideologia de todos não é igual à minha; tenho idéias mais libertárias, mais centristas e, por que não, mais esquerdistas. Penso em inúmeras formas de tentar fazer a minha parte e de "plantar a sementinha" da igualdade e da mobilização social no coração de todos, da minha forma.

Mas pensa comigo: qual é a ideologia certa? O que é bom para todos e para o mundo? Será que eu tenho a competência, a excelência e a experiência de dizer o que é certo e o que é errado para todos? Não, de forma alguma. Sei apenas o que é bom ou o que é ruim para mim, especulando o que pode ser bom para o mundo. Quando discutimos com alguém sobre o mundo, mudanças e alternativas que possam servir não só para o bem pessoal, mas para o bem comum (para que possamos viver em paz e comunhão), devemos ser muito cautelosos: muitas vezes acabamos por ferir e por afrontar as ideologias de nossos amigos interlocutores; meu querido, esta é uma falha lamentável. A maioria das pessoas não têm uma visão geral do todo, muito menos a maturidade suficiente para saber separar alguns pontos de vista das suas próprias ideologias. Resultado: não há a reflexão, gerando uma confusão por parte do amigo ouvinte, que mistura alternativa com ideologia. Ele não entende e, no mais profundo ataque romântico, defende sua ideologia como uma leoa defende sua cria antes de analisar o contexto. Muitos dos meus conhecidos que se dizem socialistas (alguns de discussão muito sofrida, diga-se de passagem) pensam na salvação do mundo do capitalismo e da selvageria da desigualdade antes mesmo de pensar em como tentar solucionar problemas pontuais com alternativas mais simples, como por exemplo, tocar os tiranos com uma discussão inteligente e cativante. Fazer a sua parte. Fazer com que eles nos ouçam, nos interpretem. Eles se recusam. Devemos estudar mais, não só os temas pontuais – e dominá-los para que não percamos a razão nos momentos de fraqueza -, mas também o interlocutor, que aqui chamo de adversário, para vencê-lo e convencê-lo. Eu sou da opinião de que discutir antes de conversar não é inteligente, não é sábio; também o fato de alguém não expor suas idéias (para não gastar bala com chimango), muito menos de não aceitar ouvir a opinião de outrem, burrice. A ideologia limita a conversação, muitas vezes. E o que vem a ser isso, preguiça? Intolerância? Hora do exemplo.

Esses dias estive em Brasília em uma audiência pública para tentar recuperar os estágios de férias perdidos pelos estudantes de medicina com a aprovação da nova lei dos estágios. O estágio extra-curricular optativo ajuda a complementar a formação do acadêmico de medicina (interessado) e qualifica a transformação deste em um bom médico, bem aquele que a população e o sistema único precisam. Em função de alguns pontos da lei, os estágios foram fechados pelos hospitais-escola, que se recusaram a pagar o seguro de vida dos estudantes, por exemplo, alegando não ter verba para tal. Os hospitais nos exploram algumas vezes; entretanto, os estágios são cedidos por eles. Claro que deveríamos ter uma formação curricular muito melhor para que o estágio não seja primordial, e sim opcional. Todavia, antes de pensarmos em uma reforma curricular, devemos recuperar os nossos direitos iminentes – neste exemplo os estágios -, negociando com os hospitais-escola e com os representantes dos parlamentares. Mostrar que somos bons, surpreendê-los, seduzi-los, mostrar confiança nos nossos argumentos para que a vitória seja no verbo, convencendo-os sutilmente; não é difícil. O problema é que lá estava um outro estudante que não teve postura ao expor suas idéias de maneira objetiva; o amigo não entendeu o contexto, pois estava pautando o tempo todo a reforma curricular, bem como estava atacando os representantes dos hospitais, subliminarmente chamando-os de exploradores. Te pergunto: se te afronto, terás a mesma sensibilidade em me ouvir do que se eu te tratasse com elegância? Se eu te ofendo, terei a tua confiança? E isso pode ser encaixado em qualquer realidade, em qualquer situação. A ideologia do nosso amigo, ou seja, a vontade que tinha em mudar o mundo e, posteriormente, em julgar os bastardos, obstruiu a sua capacidade de dialogar e de construir algo de bom, de concreto. Não deu alternativas, muito menos construiu resultados. Tentei dialogar com ele, para mostrar alguns pontos de vista sem perder o foco, mas o que ganhei foram afirmativas de cabeça e um e-mail escrito por ele endereçado a todos os estudantes de medicina, ignorando a minha presença na audiência, bem como a nossa conversa.

Lamento o entendimento de alguns de que, para ter inteligência, não se deve ter ideologia. Muito menos não relacionar estas duas variáveis. Ideologia é uma condição inata de todos nós. O problema é que a grande maioria não faz nenhum tipo de reflexão junto às outras ideologias existentes, muito menos tenta analisar o contexto geral, e muito, muito menos, saber como pensa o nosso adversário para que possamos cativá-lo e vencê-lo. Quanto mais inteligência (e aqui coloco todos os tipos de inteligência que o ser humano possui, lembro que inteligência não possui um conceito único), maior a capacidade de reflexão; logo, os conceitos estão diretamente relacionados. Não acredito que existam muitas pessoas com sangue ameno para discussão; todas têm sangue quente e são ávidas por uma discussão rica em fatos de impacto para a contenda.

A rebeldia faz parte deste romantismo; ser romântico, muitas vezes, é ser infantil e estar propenso à não-reflexão e à não-flexibilidade de idéias. Às vezes, precisamos dar um passo para trás para podermos dar dois à frente, como dizia o mestre Lênin; ora entrando em território inimigo para conversar, ora ouvindo mais, deixando as nossas ideologias de lado para entendermos as dos outros. As nossas, bem sabemos, relutam em dar este passo para trás. Que saibamos ter paciência e estratégia para cativar, para fazermos a nossa parte de forma ampla e efetiva.

outubro 02, 2009

Maratona

Celebremos mais um banquete
à nação quoutrora chorou
e hoje brada aos céus e aos ventos
A vitória deste homem (vil)
contra o mundo que o tiraniza

Vamos comer
a carne dos doentes
Vamos beber

o suor dos operários
Vamos dançar
a marcha dos encarcerados
Vamos fornicar
às portas da escola

E o homem que corre à linha de chegada
Não tem mais futuro, sublimado no ofegar

Milhões de pessoas presas a um falso vácuo
Hipnotizados somos, mais uma vez.

"Vestimos agora as peles de quem nos oprime
ao sentarmos junto ao manjar dos eleitos
O chão nunca mais será o nosso derradeiro destino
e o nosso trunfo será o desenvolvimento"


Enquanto eles jogam
Nos uniremos
Eles vibram
Suplicaremos
Eles mandam
Protestaremos

.
Clientes
Até quando
Investidores
nos curvaremos
Usurpadores
sem exigirmos
Estupradores
Insurreição

Aqui, o troféu será ouro, prata e bronze.
Cegos e fartos da luxúria que os condenam, esperamos
à montante perspectivas, à jusante negligência.

.
O pódio desta maratona só merece três medalhas
Feijão, Vida e Labor.