novembro 02, 2011

Sobre a juventude

Conversando comigo do outro lado da varanda, Dona Terezinha me confessou o sonho que possui de voltar a ser jovem.

Enquanto a ouvia, sentia a transcendentalidade de seus pensamentos brilhar suas pupilas enquanto lamentava seus arrependimentos. Tal qual o Farol da Solidão: emitindo uma bela e clara luz solitária - mas de portões trancados, arraigada em um balneário velho e abandonado. Entre um devaneio e outro, me dizia que se tivesse mais uma chance não teria casado; dançaria mais, viajaria para outros mundos, conheceria pessoas diferentes de si e teria mais apetite pelos livros. Faminta por uma nova vida, a cada projeção emitia um suspiro, imaginando um dia no passado onde receberia a visita de uma Terezinha do futuro, que lhe mostraria todas as suas cicatrizes adquiridas pelas suas escolhas e que lhe desse conselhos de mudança, encorajando uma personalidade outrora pueril, covarde e coagida a ter coragem para buscar, de uma vez por todas, a tão sonhada felicidade.

De volta aos pés no chão, retorno para casa. Ao sentar na mesa, me deparando com as folhas em branco, tento rabiscar algumas letras. Mas me envergonho dos olhares destas paredes brancas que me encaram questionando os motivos pelos quais, mesmo em pleno auge da minha juventude e de minha sanidade, novamente sinto vontade em trancar minhas portas e, entre lágrimas e decepções, desejo a passagem do tempo.

Penso então na conversa que tive. Sexagenária, tendo passado apenas poucos anos de sua viuvez, nem mais no dia de finados Terezinha visita o túmulo do falecido marido. Embora seu semblante não demonstre qualquer reação contra as chagas causadas pelo sofrimento dos anos, interrompia minhas retribuições de esperança para ensinar que nem os mortos merecem a memória da nossa tristeza.
E termina dizendo que nós, os sobreviventes deste mundo, somos os verdadeiros maestros da nossa própria vida. Nossos instintos mais profundos devem incentivar as nossas escolhas, construídas a partir do nosso caráter, com muita coragem e com muita alegria de viver - quebrando assim as correntes que prendem a abertura de nossos portões, movendo assim nossos solitários faróis aos oceanos. O medo não é de sair da beira do mar: é de iluminar aquilo que ainda não conhecemos.

Hoje Terezinha é a personificação do meu futuro batendo em minhas grades, me aconselhando a bradar por liberdade, por uma vida nova. No fim de mais um ciclo, não vou fraquejar. Vivo para ela e para a minha paz. Assim, ergo a cabeça em direção ao ponto mais distante deste oceano; esqueço as mágoas, remodelo as recordações e saio a buscar o desconhecido. A força das ondas na arrebentação já não são mais obstáculos.

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Dá adeus à terra firme; sai em busca de ti.