dezembro 06, 2011

Causa mortis (to writer's block)

Mal consigo respirar. Imóvel, perco o controle dos meus movimentos. E dos meus pensamentos.

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Parece que não tivera tempo pra falar, que não fora correspondido, que não pudera ser compreendido. Ele gritava, batia contra o peito querendo sair deste gradil como se estivesse preso, condenado por querer ser o controlador, por querer determinar as escolhas. Pagara a sentença calado como se fosse culpado, mas sua paciência chegara ao seu ponto final. Então, ciente do seu tamanho e do que se torara, dominou por completo o corpo e a mente - que sucumbiu à sua vontade e se tornou sua refém. Estagnou o presente, como está acostumado a fazer nas horas felizes e nas horas tristes. Mais uma vez dono das ações, não obteve êxito sozinho. Chorou, enfraqueceu, murchou. Acarinhou a lucidez, com quem tivera desafeto. Libertou a hombridade e recolheu do chão os valores que escondera. E se calou. A mente hoje limpa as feridas, se levanta e ainda cega começa a procurar o caminho que perdera. Dessa vez ele foi longe demais. E agora é muito tarde.

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É um coração que, de tão grande, rouba as rédeas da razão e toma as decisões da vida sozinho. Em silêncio, lamenta não saber ressuscitar sua criação mais bela, o amor.
Irônico o genitor das minhas mais profundas felicidades também ser o causador do meu decesso.


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E em tua homenagem, hoje fui eu quem andou descalço pela sala.

4 comentários:

Felipe Lins disse...

Belo.

Rita disse...

Muito bonito. Você escreve muito bem!

bluesjazzecafe disse...

O até hoje não digerido título.
"Causa mortis" pouco convincente.
Poderia sucumbir à vontade alheia de ler os escritos de seu pouco compreendido "presente estagnado".
Logicamente, sem descartar os tons pessimistas, alguns cárceres de vida e gritos de humanidade, mas esquecendo daquele alheamento de primeira fase drummondiana. :)

Marcos Vinícius Ambrosini Mendonça disse...

Obrigado pelos comentários, Felipe e Rita.

Fabiana, busquei neste texto trazer a morte do amor da personagem de uma forma mais visceral, apontando a causa da sua morte. Parti do princípio mais simples (e também mais clichê) da relação poéticas com o corpo humano, o eixo "coração-emoção/cérebro-razão"

É a transcrição do episódio do infarto de seu coração (como órgão responsável pela origem dos sentimentos e desejos), extenuado pela desilusão do conflito interno entre expectativa-realidade do presente. Há também a conclusão de uma relação desgastada com uma mente doente, após inúmeros confrontos.

Após ler e reler algumas vezes, vi que ele está um tanto quanto confuso. Vou tentar reescrevê-lo no objetivo de torná-lo mais claro.