maio 05, 2009

Prólogo

Engraçado foi o jeito com o qual ele conseguiu sorrir naquele dia. Nada parecia encaixar; até o par de meias que vestiu antes de sair de casa estava trocado. Errou de chave duas vezes e, durante o caminho até a garagem, divagava sobre como era repleto de defeitos e como eles estavam a estragar a sua semana. A neblina impedia ter qualquer noção de proximidade com as ruas e o ar gelado que respirava tocava mais o coração do que os pulmões. Cada passo lembrava cada segundo dos momentos frustrantes do reencontro de ontem, desde o primeiro contato até o último adeus. O carro parado, sozinho, incitava qualquer tipo de comparação consigo mesmo, até porque qualquer suspiro o afundava em tristeza. O ritual é sempre o mesmo: olhar para os lados, abrir a porta e se manter atento, mas a mente não seguia mais o espectro do olhar; a retina transmitia uma outra imagem, em um outro mundo. Liga o carro. Pressa, já está tarde, vamos resolver isso logo, olhe para os lados, mantenha-se seguro.

3 comentários:

mocinhabraba disse...

Tá uma delícia de ler isso aqui.

José João Jesus disse...

"e o ar gelado que respirava tocava mais o coração do que os pulmões." Pudera eu ter escrito tão bela frase. Admirável, novo prosador.

Nathy Feijo disse...

"divagava sobre como era repleto de defeitos e como eles estavam a estragar a sua semana."
Me vejo muito nessa situação nos últimos tempos...mas , vamo em frente ;)